O resultado sugere que as companhias se aproveitam dos bens de capital temporariamente mais baratos, devido à moeda mais forte, para investir mais, diz o trabalho. No Brasil, o tema ganha relevância num cenário de enfraquecimento do real, em que se reacende o debate sobre o efeito da desvalorização da moeda sobre a atividade econômica.
O estudo mostra que empresas em países avançados e na Ásia emergente investem mais quando o câmbio se deprecia. “No entanto, em outras economias emergentes e em desenvolvimento, assim como em alguns países desenvolvidos com um baixo grau de complexidade econômica estrutural, o investimento das empresas cresce quando a moeda local se fortalece”, afirma o trabalho, escrito pelos economistas Steve Brito, Nicolas Magud e Sebastian Sosa, do FMI.
“A resposta do investimento no nível das companhias a movimentos na taxa real de câmbio [descontada a inflação] varia de acordo com a estrutura produtiva da economia”, dizem eles, que usaram uma amostra de mais de 40 mil empresas não-financeiras, de 39 países emergentes e em desenvolvimento e de 32 países desenvolvidos, no período de 1995 a 2016. Do Brasil, há 345 empresas, o equivalente a 0,9% do total. As companhias dos EUA respondem por 19,1% da amostra, seguidos pelas de Japão (10,9%), China (7%), Índia (5,7%) e Reino Unido (5%).
A relação entre a taxa de câmbio real e o investimento empresarial varia entre as diversas regiões do mundo, ressaltam os economistas do FMI. As empresas de países desenvolvidos tendem a investir mais quando suas moedas se desvalorizam em termos reais, “sugerindo que canais de competitividade de preços têm um papel dominante”. Nos países emergentes da Ásia, as companhias se comportam de modo semelhante. “Por contraste, em todos os outros países emergentes e em desenvolvimento, as empresas investem mais quando as suas moedas locais se fortalecem em termos reais”, dizem os economistas do FMI.
Uma explicação plausível, segundo eles, é que esses países tendem a depender pesadamente de importações de bens de capital estrangeiros para a produção doméstica. Quando o câmbio está valorizado, esses bens se tornam mais baratos.
Os economistas examinam então o papel da complexidade econômica, usando um indicador elaborado pelo economista Ricardo Hausmann, da Universidade de Harvard, com outros autores. Ela mede a intensidade relativa do conhecimento de uma economia, podendo ser utilizada para avaliar a diversificação econômica e a capacidade de produção no mercado global. “Tipicamente, economias menos complexas tendem a ser mais orientadas para [a produção de] commodities e ter empresas manufatureiras menos competitivas”, diz o estudo. “Em consequência, a dependência de bens de capital importados é maior, especialmente dado o valor adicionado de suas exportações.”
O resultado mostra que os países avançados e os da Europa emergente têm um nível mais alto de complexidade econômica. Em seguida, vêm as economias da Ásia emergente e, depois, as da América Latina e do Caribe, as do Oriente Médio e do Norte da África e, por último, as da África Subsaariana.
Ao analisar a evolução entre 1995 e 2016, o estudo mostra que as economias emergentes da Ásia tiveram o maior aumento da complexidade econômica no período. As da América Latina e do Caribe, por sua vez, tiveram a maior queda. “Nós constatamos que é precisamente a complexidade econômica que determina a relação entre a taxa real de câmbio e o investimento das empresas”, dizem os economistas do FMI. O estudo ressalta que as conclusões são dos autores, não “representando necessariamente as visões do FMI, de sua diretoria-executiva ou de sua administração”.