Empreendedores sempre sonham grande, mas será que existe uma hora em que é preciso colocar os pés no chão? O conservadorismo, em alguns casos, pode salvar o seu negócio.
É importante saber por que se quer empreender. Muita gente possui uma visão romantizada e fantasiosa sobre o assunto. Há quem ache que vai ficar rico de forma rápida e fácil. Há quem pense: “vou criar um negocinho, colocar outros pra tocar, olharei de vez em quando e viverei tranquilo de renda”. Isso quase nunca funciona e a única coisa que vai acontecer é, provavelmente, seu negócio falir e você perder seu capital.
Na verdade, empreender, especialmente no Brasil, é uma das coisas mais estressantes e desgastantes que alguém pode querer fazer. Desde o minuto inicial em que você decide abrir uma empresa, seu sono nunca mais será o mesmo, pois, além das preocupações normais de qualquer adulto, todo o seu patrimônio estará sempre em jogo, podendo evaporar em uma virada brusca de mercado, uma aposta errada, um assalto ou uma fraude cometida por pessoas da sua confiança.
É preciso lembrar que, pelas regras brasileiras, caso você invista seu suor e dinheiro em um determinado negócio e ele acabar não dando certo, existem vários tipos de dívidas que vão recair diretamente sobre a pessoa física do dono. Isso inclui as dívidas trabalhistas, tributárias e praticamente todas as dívidas bancárias, uma vez que os bancos costumam exigir aval dos sócios para emprestarem dinheiro.
No momento de dar o primeiro passo, é bom colocar a emoção de lado por alguns momentos e fazer uma análise muito fria sobre as chances de sucesso do negócio. Sempre é bom traçar alguns cenários diferentes: “Se a preparação da empresa demorar o dobro do previsto, meu capital de giro vai acabar ou consigo aguentar o tranco? E se não houver clientes suficientes em um primeiro momento dispostos a comprar o que estou vendendo? E se o cenário econômico piorar?”
Caso sua ideia de negócios pare de pé mesmo no cenário mais conservador, é sinal de que você pode dar o próximo passo com mais segurança. Caso contrário, melhor revisar os planos, de maneira muito serena e realista.
Esse tipo de postura pode ir de encontro com o espírito arrojado pregado pelos livros de negócios, os quais costumam glorificar os grandes empreendedores e chefes militares audaciosos. No entanto, o conservadorismo ajudará a manter sua empresa viva e sua família com comida na mesa. Apesar das pessoas tenderem a se espelhar apenas nos grandes casos de sucesso, pode-se aprender dez vezes mais com cases de fracassos do que com sucessos.
Livros de negócios costumam pegar emprestados muitos exemplos da guerra. Alexandre, o Grande, por exemplo, era um excelente general, que conquistou o poderoso império Persa, cujo exército era cinco vezes maior que o grego, em apenas duas batalhas decisivas. As pessoas que leem somente livros sobre sucesso vão sair com a lição de que devemos ser bravos e destemidos, arriscar tudo em grandes jogadas de tudo ou nada. Isso é uma leitura parcial da história, a qual coloca a lupa em quem deu certo e ignora os outros cem casos que não deram certo.
As vitórias de Alexandre foram facilitadas por graves erros estratégicos cometidos pelo imperador persa, Dário III, bem como pela covardia dele – Dario fugiu no começo das duas batalhas mais importantes. Não se pode contar com isso sempre. Somente como ilustração, vale lembrar que trezentos anos depois das conquistas gregas, situação inversa ocorreu.
Um exército invasor – nesse caso os romanos – comandado por outro general competente, Marco Crasso, mentor de Julio Cesar, tentou invadir a Pérsia. Dessa vez, os persas estavam mais bem preparados, usaram o terreno e as armas de maneira mais inteligente e massacraram completamente os romanos. A cabeça do general terminou exibida na ponta de uma lança.
Muitos livros de negócios dão como exemplo as glórias de Alexandre, porém praticamente nenhum relembra o pobre Marco Crasso. O estudo dos fracassos é bem menos sexy do que a atual obsessão por empresas da moda como Ambev, Apple, Google etc. No entanto, essas lições podem contribuir bastante para manterem nossas empresas de pé.